segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Um Amor em Lisboa

O dia estava escuro e cinzento e o céu parecia que estava prestes a romper num pranto. Ele caminhava pela cidade, num mar de gente, entre pisadelas e encontrões, quase a sufocar. No meio de tanta gente - e sentia-se tão só. O que à partida poderia parecer tão acolhedor, não passava de uma enganadora solidão.
Todos lhe pareciam a mais horrível das criaturas e era como deambular nas ruas de um planeta desconhecido. Tudo tinha sido demasiado duro para poder apagar da memória. Diante de tão insípidas palavras tinha ficado com um travo amargo na boca.
Ele havia-se despedido apenas com um olhar breve, talvez sentido um profundo rancor.
O Sol já se punha sobre a cidade e ele saía - supostamente para as loucuras da noite.
A cidade estava já adormecida. Ele vagueava pelas ruas desertas, com um imenso desejo de solidão. Giravam-lhe ainda na cabeça todo o chorrilho de palavras que lhe havia dito. Como foi cruel, injusta, insensata...Porquê?! Continuou a caminhada. O eco dos seus passos começava a irritá-lo. Parou. Observava o rio, ao longe, com uma estranha passividade. A noite estava fria e o Sol tinha, há muito, cedido o lugar à Lua - que estava cheia - de angústia.
Tentou repensar, voltar a passar o filme de tudo o que havia acontecido, procurando explicações lógicas e pouco filosóficas da situação. Afinal, talvez ela não tivesse sido tão cruel, ou injusta, ou insensata. E ele, talvez até tivesse sido egoísta ou insensível. Vá lá saber-se.
Não aguentou esperar mais um segundo: virou costas ao Tejo e tomou o rumo de um sentimento mais forte; um sentimento de paixão que lhe ditava a direcção a seguir. Desejava que não fosse demasiado tarde.

Abriu os olhos: um corpo nu, recortado pelo Sol nos primeiros raios da manhã. Ela parecia um modelo de um velho quadro, pintada a óleo em tons pastel. Era linda, Admirava-lhe os contornos, sentindo um regresso à realidade, vivida em tons de azul. Seguia-lhe os curtos movimentos e beijou-a na face.
Era o acordar de um curto sono, de uma noite longa - que esperava ter chegado para sarar todas as feridas.
A Lua cedia agora lugar ao Sol.
A cidade começava a despertar e começava a ouvir-se um borborinho, próprio da azáfama da cidade. Ouviam-se os primeiros passos a subir a rua, vagarosos, próprios de quem de quem vai trabalhar, ainda ensonado, depois de uma noite curta e mal dormida.
Ela enroscou-se no lençol branco enquanto ele se levantou para ir até à janela. Na rua, do outro lado da estrada, um velho enroscado no que restava de um cobertor e coberto de jornais tiritava de frio. O aconchego não era muito e não era suficiente para o cobrir do frio, ou da fome, ou miséria, ou solidão. Deve ser triste estar-se só. Na cara do velho, enrugada e queimada do Sol e do frio, era impossível adivinhar-lhe a idade. Por certo lhe gelavam as mãos.
Afastou-se da janela, da rua, das pessoas, do velho e voltou a dormir. Decidiu que não ía trabalhar.
Ela dormia profundamente – estaria a ter um sonho bom?.
Desta vez tudo correra pelo melhor. Ainda bem que foi assim.

2 Comments:

At quarta-feira, fevereiro 08, 2006 9:25:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Gostei muito da história e da forma como foi descrita. Fico apenas com uma dúvida: foi um Amor real, vivido e sentido por ti ?
Beijinhos
Tony

 
At quinta-feira, fevereiro 09, 2006 1:28:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Os meus amores são sempre muito vividos e sentidos. E mesmo quando são ficção, se tornam muito reais. Que posso eu fazer? Sou uma sonhadora...

 

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