Romanticídio
Que se passa hoje com as pessoas?Quem anda, afinal, a dar cabo do romance?
Porque se entregam as pessoas ao mais fácil?
Porque se contentam com o pouco?
Porque optar pelo ordinário e não pelo extraordinário?
Já ninguém acredita no romance?
Em fazer figuras tontas? Ridículas?
Que é feito dos corajosos?
Que é feito dos audazes? (Esqueceram que a sorte os protege?)
Se olharmos em volta e pensarmos nas pessoas que conhecemos, conseguimos dizer quem é de facto feliz? Parece que as pessoas tentam procurar, desesperadamente (na verdadeira acepção da palavra), o seu par. Depois, entregam-se a uma vida de sofá e pantufas. Em que a vida a dois nasce... porque faz parte de um processo social. É assim. Faz parte. E depois têm filhos.
Já poucos se entregam ao romance, como se este não tivesse já qualquer credibilidade. Como se já ninguém acreditasse ter algo especial reservado.
Ainda existe alguém que se apaixona de verdade? Ou que vive uma vida romanceada?
Já ninguém acredita naqueles amores desmedidos das histórias encantadas? O amor até pode não ser eterno, ou ser eterno... enquanto dura; e descobrirmos que tem muito mais de efémero... mas que importa isso?
Já ninguém acredita nos amores em que se morre, renasce, em que ganha, se perde...?
E quando um dia a vida findar, alguém irá interrogar-se se algum dia viveu intensamente um romance?
Cambada de romanticidas.
9 Comments:
Não, Cat. Quando um dia a vida realmente findar ninguém se irá interrogar sobre nada. Viver é a condição de interrogar. É a proximidade da morte (diria intimidade) que torna o romance em paixão.
Encantamento, transfiguração que alucina a vida. O romance há muito para aí. Ou havia, que agora está a passar de moda, substituído pela literatura do mistério, das sociedades e dos amores secretos. De romance havia muitos: épico, com profunda carga histórica, novelesco e de cavalaria; trágico, enovelando paixões impossíveis que levavam à morte, à castração, ao degredo; de costumes, como a descrição neo-realista de uma qualquer rua italiana a pulular de paixões anónimas e da exaltação dos sentidos e das emoções à flor da pele.
Não é o romantismo que comove, que esse está moribundo, praticamente como um velho abandonado aos parcos confortos da rua. Ninguém o vai matar, é deixá-lo morrer. É a paixão, porque a paixão é sofrimento, passividade, abandono. Os apaixonados são os que se abandonam nos braços um do outro. Para partilhar as suas infelicidades.
Desculpa, Cat. Eu lamento é o passiocídio!
Discordo um pouco dos dois, no termo identificativo do problema, em vez de romanticidio ou de passiocídio, creio que o problema dos nossos tempos é mais o consumicídio: tudo sacificamos no altar do consumo, do prazer imediato, da satisfação imediata do ego, do momento. Todos somos condicionados no atingir de um status. O status também pressupõe e define o que devem ser as emoções e as relações, sempre no cumprir de uma meta...a imagem, o status, a recompensa imediata, a satisfação primeira de um igoismo.
Status não se compadece com planos a médio e longo prazo e o romance e o verdadeiro amor, sóp existem e são percepcionavéis ... a médio e longo prazo.
E pq isto continua a deixar-me sem réstia de esperança?
Já ninguém vive um romance.
Já ninguém vive uma paixão.
Já ninguém vive a vida de forma intensa ou apaixonada.
Já ninguém faz nada apaixonadamente.
Onde foram parar essas emoções à flor da pele?
Já ninguém vive com interrogações, procuras, buscas...
Todos vivem em torno desse tal consumismo. A todos os níveis, mesmo nas emoções.
Já ninguém se encanta com outras coisas que não as materiais?
Mas agora todos vivem assim??
É aterrador acreditar nisso.
Lá terei de revisitar o tema uma vez que deu polémica. É para isso que estamos cá, não é António, não é Cat? para polemizar, interagir, abanar as convenções, o saber feito, o discurso oficial... enfim, questionar, questionar.
Não estou voltado para o romance que acho uma lamechice pegada. E não é de agora, é de quase meio século de uma existência a interrogar-se sobre o sentido das coisas e das palavras.
Como é sabido, o romantismo é um período da história da cultura ocidental saído do iluminismo e reforçado pela revolução francesa, que valoriza a liberdade individual e a moral burguesa, bem como a liberdade dos povos e o nacionalismo. A sua forma literária privilegiada é o romance, uma estrutura narrativa recuperada de alguns textos medievais escritos em "romão" ou "romanche", uma multiplicidade de falares advindos do latim, a língua dos romanos. O romance, na sua primeira fase, tentou vender os valores burgueses: burguesinhas domésticas apaixonadas por jovens engenheiros de formação britânica e ligados à industrialização. De algum modo se assemelhavam às donzelas por quem os jovens cavaleiros terçavam armas. O paralelismo da versão doméstica reproduzia-se na esfera da cidadania
em termos de nacionalismo: a fundação das novas nacionalidades (Alemanha, Itália) ou a refundação das velhas (luta contra o despotismo monárquico, a aristocracia e o clero). Ora o nacionalismo romântico promovia a ideia que a origem das nacionalidades modernas remontava a esses períodos míticos da média idade (centralização do poder político na Europa Central, luta contra os mouros no Sul). Os estilos de vida e os ideais políticos não são de agora, são de sempre: são universais e intemporais (as grandes mentiras tomam-se em jejum!). Mais tarde, enterrados o Walter Scott, Garrett e o Herculano, o Göete e o Schiller, o romantismo tornou-se realista, com as suas hipócritas preocupações sociais: as meninas letradas deram o lugar, primeiro às costureirinhas, depois às operárias fabris, e o cavaleiro-andante, cavaleiro da indústri, cedeu o lugar ao proletário e ao funcionário público. O romance democratizou-se, revelando novamente o seu lado universal, intemporal e interclassista. Vulgarizou-se com o cinema e a telenovela: os seus protagonistas são pretos, gays, judeus, emigrantes, velhos, crianças. Hoje, as personagens de romance mandam esse-eme-esses, jepegues e emepegues e toda a m... cuja publicidade passa na televisão entre uma comédia americana e uma telenovela portuguesa. O consumo é a quintessência do romance: o herói romântico de hoje não consome a sua vida pela amada nem pela pátria, a heroína romântica já não se consome de suspiros e lágrimas por amor: ambos consomem watchs côr de rosa com florinhas, ipods, vão de férias para a república dominicana, em vez de cavalos fazem o polimento diário do BMW que conduzem a galope desenfreado matando a torto e a direito os mouros e espanhois que se atravessem no caminho. Acordem, amigos: a lógica do romance é o consumo. O romance é o grande marketing da sociedade consumista. Não se iludam.
Aliás, António, cuidado: o consumo não está a morrer (consumicídio), está bem vivinho da costa (consumolatria). Perdoa-me a correcção.
Dá que pensar, não dá Cat? Por que te pões com esse ar teatral "ai, que vai ser de mim, que me mataram o romantismo, ai". "procuras, buscas"... de quê?, do Graal? Ai que me mataram o idealismo. Ai que vem aí o materialismo, ai!Ná, Cat querida. Sabes que não é nada disso: representas e piscas o olho ao espectador.
Bem te conheço.
Se me quiseres dar uma tareia, sabes onde me encontrar.
Beijinhos
Cat, sabes o que te digo?
Procura e encontrarás...
Há neste planeta mt gente que quer e deseja viver a vida com a energia e paixão com que tu a vives...
neste momento há 6 biliões de seres humanos... é uma questão de procurares e não desistires... porque afinal, o desespero tb faz parte do romance... o desistir é que não
e... diverte-te na procura ;)
um beijo grande!
p.s. não te esqueças de uma coisa... não procures definições para o romantismo... cada um tem a sua...
Olha, se queres saber eu sempre me entreguei de corpo e alma e sempre vivi com a paixão e o fogo no coração.
Infelizmente nunca tem resultado por uma razão ou por outra. Mas ainda acredito no romance...
Concordo que nos tempos de hoje as pessoas têm tendencia a contentar-se com o mais fácil. Mas penso que isso seja porque o mais dificil é estar sozinho. E muitos de nós já experimentaram essa sensação de falta de amor e carinho o tempo suficiente para pensar (muitas vezes inconscientemente) que mais vale acompanhado por alguém que gostamos do que ficar a espera de alguém que amamos.
Mesmo assim ainda não me dou por vencido. Para mim o amor ainda vale a pena!
E tu não te dês por vencida também. Às vezes as pessoas pensam que o tempo começa a acabar mas não é verdade. Ainda somos muito novos! :)
Eu tento continuar a acreditar, mas concordo com a Cat... axo q hoje, os romances transformam-se em sofá e pantufas. E dps realmente vêm os filhos pq é o socialmente correcto, e qdo se olha pra trás, perdeu-se uma vida a dois q poderia ter sido recheada com vários momentos romanticos, dakeles q se vêm nos filmes e q pensamos sempre pq é q não nos acontece a nós; para contar aos filhotes akelas histórias q as avós contavam "sabes, o teu avô fez-me uma serenata" ou "o teu avô todos os dias me comprava flores"... e quem diz avô, diz pai, tio, primo... O q vamos hoje contar aos nossos filhos? Casámos, dps tivémos-te, dps foste pra creche até às 19h pq a mãe e o pai estiveram a trabalhar, tomavas banho, jantavas e ías pra caminha! Hoje já quase não temos tempo pra nós próprios... Já quase não temos tempo pra desfrutar do romance... eu tento lutar por ele, SEMPRE! E, pode não parecer, mas continuo apaixonada! :)))
Primeiro foi a polémica... depois a coisa apaziguou...
Gostei dos vossos comentários. E deliciei-me com as vossas visões da questão.
Provavelmente estar-me-ia a referir mais à paixão do que ao romance, como o Rui apontou. Também acho que hoje tudo se vive na base do consumo rápido, como disse o António. É o fast-food e o fast-live...
Também não quis dizer com isto "coitadinha de mim" (e não Rui, jamais te daria uma tareia... até pq me fazes pensar nas coisas e olhar para elas sob diferentes e estimulantes perspectivas)... quis dizer q fico triste quando me apercebo deste fenómeno de vida numa base de consumo rápido. Já vivemos a correr... mas se no meio disso passamos a viver tudo de forma superficial, pouco intensa e sem paixão... e por vezes é isso q observo: pessoas que vivem sem paixão, sem interesse real por tudo o que as rodeia.
Quantos de nós param um momento por dia para olhar para o céu?
Quantos de nós mexemos na terra?
Quantos de nós regam flores?
Quantos de nós molham os pés regularmente na água do mar?
Quantos de nós conhecem cada ruga ou poro da pessoa que (supostamente) amam?
Quantos de nós lembram às pessoas que mais gostamos, o quanto são importantes para nós?
Quantos de nós são curiosos em relação a tudo o que nos rodeia?
Quantos de nós, por cada vez que respira, aspira tudo o que é cheiro, som, cor ou sabor?
Poucos
Poucos quando somos tantos
quando somos demais
Porque somos tantos e os recursos são finitos, vivemos demais para os recursos e gastamos menos recursos, para viver...
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