quinta-feira, agosto 03, 2006

A tchuba dja tchiga

Tchuba di Verão.
Manhã bem cedo e o céu já em grande pranto e profundo cinza.
Parecia que tudo ía desabar.
Depois de muitos momentos nos últimos dias que têm ameaçado tchuba, finalmente… chegou a água!
A pessoa com quem trabalho no Cliente telefona a avisar que posso ficar a trabalhar no hotel, pois ela está retida em casa. Com as pequenas cheias que se foram criando, não consegue sair de casa. Digo ok, dividimos os trabalhos para esse dia, pois há muita coisa para fazer e o tempo não perdoa. Mudo de roupa, calço chinelos. Para sair do quarto, os pés têm de entrar na água. O hotel parece Veneza, com a diferença que não se vêm barquinhos e não há ninguém a cantar o sole mio… Contudo, grande trânsito “marítimo”, pois já todos andam a tentar desentupir as zonas de escoamento de água, entupida de terra e raízes.
O dia resultou em confusão geral na ilha de Santiago, onde mais choveu, pois ninguém esperava que a primeira chuvada séria do ano fosse assim. Foi o caos. Acidentes, pessoas retidas em autocarros, um autocarro que quase caiu de um penhasco, a Cidade Velha foi invadida pela lama e várias estradas cortadas. Com o problema dos cortes de electricidade à mistura… a população anda com os nervos à flor da pele. A Protecção Civil não chegou para as encomendas. No meu hotel o gerador pifou mais uma vez e ficámos sem luz e água. Decidi ir trabalhar para o hotel vizinho, mas entretanto tudo regressou à normalidade.
No final do dia, o Sol rompeu, o calor, sempre mais que muito. De Julho a Setembro o tempo é mais quente e húmido e é a época das chuvas (quando chove…). Com esta chuva, a primeira barragem construída em Cabo Verde, aqui em Santiago (no concelho de Sta Cruz) e inaugurada em Julho deste ano vai começar a encher. Obra feita por chineses e oferta da República da China, estima-se que levará até 30 anos para encher completamente. Mas este é o primeiro caminho para aproveitar a água das intensas chuvas que, ao longo dos anos, se perde, quando escoa para o mar.
Na maior parte das ilhas, a agricultura é ainda a maior fonte de subsistência da população. E em Santiago o mesmo se passa. No interior, entre montanhas sinuosas e nas suas encostas, as gentes correram a lançar as sementes à terra. Em breve, o tom castanho-vermelho ficará coberto de côr verde. No ar ainda há um cheirinho a terra nolhada. A tchuba é a maior bênção por aqui.